segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Entrevista com José Ivonildo do Rêgo, reitor da UFRN


"A maior conquista foi se tornar uma universidade de pesquisa", diz José Ivonildo do Rêgo.
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) cresceu nos últimos 15 anos bem acima de qualquer outro indicador econômico ou social do Brasil. Todos os setores da UFRN evoluíram, seja no ensino, na extensão ou na pesquisa. E foi exatamente a expansão na pesquisa que mais enche de orgulho o reitor José Ivonildo do Rêgo. Perto de concluir seu terceiro mandato à frente da UFRN, José Ivonildo ressalta que o papel de uma universidade é contribuir para o processo de desenvolvimento do estado. E segundo ele, nunca a UFRN esteve tão presente nas discussões do estado. Em entrevista exclusiva ao Diário de Natal, José Ivonildo faz um balanço de sua gestão e detalha como a universidade cresceu desde 1995, quando ele foi escolhido pela primeira vez para assumir a reitoria, passando pela reeleição em 1999 e retornando ao cargo maior da instituição em 2007.

Entre 1995 e 2010, a UFRN passou por uma grande expansão em todos os aspectos. Isso foi uma meta imposta quando o senhor assumiu pela primeira vez a reitoria, em 95, ou foi um crescimento natural? O que nós fizemos na primeira gestão foi extremamente importante para a universidade que nós temos hoje. Iniciamos uma expansão com duas preocupações básicas. A primeira foi aumentar a inserção da universidade no estado, sobretudo aumentar a oferta de ensino superior para que os jovens pudessem ingressar na universidade. A média de jovens entre 18 e 24 anos cursando o ensino superior no Brasil está em 14%, enquanto no RN essa média está em 10%. A região Nordeste de um modo geral está abaixo da média nacional, como em qualquer outro índice da educação. Essa foi a primeira motivação. Somos um estado de baixa renda. A população, de fato, não pode estar pagando o ensino privado. Em São Paulo, estado mais rico da federação, 18% dos jovens naquela faixa etária estão na universidade. Lá existem seis universidades públicas, três estaduais - as maiores do país - e três boas federais. Porém, o sistema público de São Paulo responde a apenas 7% das matrículas do ensino superior. Ou seja, por lá mais de 90% das matriculas estão no setor privado. Isso porque as pessoas podem pagar. No caso do nosso estado, devido à baixa renda, o aumento da oferta do ensino superior tem que se dar no setor público. O privado não cresce mais aqui no estado, pois não há mais mercado que possa pagar. Por isso apostamos tanto na expansão. A UFRN detém quase 40% das matrículas de graduação no estado. No mestrado e no doutorado nós respondemos por 90%. Essa instituição tem uma grande responsabilidade no estado.

Como foi possível realizar a expansão sem prejudicar a qualidade do ensino? Essa foi a nossa segunda preocupação. Nós buscamos fazer a expansão para melhorar a própria qualidade da instituição. As pessoas acham que crescer pode significar queda de qualidade. Pra gente (a expansão) foi uma estratégia, um elemento importante na construção da qualidade. Ao trabalhar o crescimento, nós pudemos trabalhar também outros elementos. Um exemplo é que na primeira gestão (1995-1999) nós tínhamos apenas 15 cursos de mestrado e doutorado com 350 alunos. Hoje, nós temos 74 cursos de mestrado e doutorado, com mais de 3,6 mil alunos. Então, na primeira gestão, fizemos uma forte política para o crescimento da pós-graduação. Primeiro, porque basicamente no nosso país é a universidade pública que oferece pós-graduação stricto sensu. Esse é um universo que o sistema privado não consegue penetrar, principalmente porque neste tipo de pós-graduação (stricto sensu) a base é a pesquisa, o que custa caro. E o lucro da pesquisa é dividido com toda a sociedade. Como o setor privado precisa do lucro, esse se torna um segmento que ele não entra. Então, na nossa primeira gestão, implantamos uma política muito clara de expandir a pós-graduação. As contratações dos professores eram dirigidas para doutores e, ao mesmo tempo, para qualificar as pessoas que aqui já estavam.

Se o senhor pudesse citar apenas uma conquista para a UFRN dentro dos três mandatos do senhor na reitoria, qual seria? Sem dúvida o fato de a UFRN ter se tornado uma universidade de pesquisa foi a maior conquista. Isso porque a UFRN sempre foi, desde o início, uma boa universidade de ensino e extensão. Agora, uma instituição com 74 cursos de mestrado e doutorado, em qualquer lugar do mundo, é uma universidade de pesquisa. Soma-se a isso um quadro de docentes de mais de 1,2 mil professores doutores. A grande estratégia foi o crescimento da graduação, mas o foco na pós-graduação para que ela se transformasse uma universidade de pesquisa. Por isso, é que nós conseguimos sair de uma instituição que tinha 11,8 mil alunos e passou para 34 mil e vai chegar a 45 mil nos próximos quatro anos.

E como a UFRN é avaliada hoje, nacionalmente? Na última avaliação que o Ministério da Educação fez em 2008, o chamado Índice Geral de Cursos, que combina a avaliação da graduação e da pós-graduação, nós ocupamos o segundo lugar em todo o Norte-Nordeste. E alguns cursos nossos, da graduação, ficaram na primeira posição do país, como odontologia, engenharia da computação e biomedicina. E muitos outros entre os melhores, como pedagogia e direito. Recentemente, o Ministério da Ciência e Tecnologia selecionou entre as universidades brasileiras que têm maior importância na produção do conhecimento e pesquisa. São 28 universidades selecionadas, entre públicas e privadas, e a UFRN é uma delas. Essas são as maiores conquistas. Crescemos no quantitativo e no qualitativo.

Como o senhor está vendo o processo sucessório deste ano, que conta com duas mulheres disputando a reitoria? Eu acho que é uma coisa natural. Um processo natural nas instituições educacionais. Agora tem uma curiosidade. A minha candidata é a atual vice-reitora Ângela Cruz. A chapa dela é formada por outra mulher. Um amigo meu questionou o fato de serem duas mulheres. E eu respondi: mas rapaz, a vida toda foram dois homens e você nunca reclamou. Agora que são duas mulheres você reclama. O fato de serem duas mulheres é uma coisa natural, mais uma prova da evolução da nossa instituição.

Qual a avaliação que o senhor faz da realização da SBPC na UFRN? Foi um grande evento, muito bem organizado. Foi fruto dessa coisa que nós falamos de a universidade crescer com qualidade. Nós atingimos um nível muito forte de organização e aprendemos a fazer as coisas bem feitas. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência é a responsável pelas reuniões. Fizemos um processo muito bem planejado, desde a escolha do tema, que foi uma escolha conjunta. Fizemos uma programação para que todos os espaços desse Campus fossem ocupados de alguma forma. Aproveitamos o máximo as nossas potencialidades. A reunião foi uma grande conquista para o estado. Foi uma ótima oportunidade de a nossa população de um modo geral participar de um evento dessa dimensão. 

FONTE: Diário de Natal

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